A produção de ovinos é uma das atividades agrícolas mais tradicionais da região sertaneja. Isso ocorre porque essa espécie se adapta bem ao clima do Semiárido, no qual as chuvas se concentram em apenas quatro meses do ano, e por causa da abundância de palma forrageira, importante fonte de alimento. Há séculos essa forma de criação é passada de pai para filho, sempre de maneira tradicional. Os animais são criados soltos na área e, após oito meses, podem ser vendidos para o corte. Hoje, a nova geração de produtores descobriu técnicas inovadoras de manejo, a exemplo do melhoramento genético, que podem agregar maior valor ao produto e turbinar os lucros.
Esse é o caso da produtora Samila dos Humildes, de 30 anos, que nasceu em uma das muitas famílias produtoras de ovinos do Sítio Alagoinha, localizado no município de Dormentes, no Sertão do São Francisco, a 752 km do Recife. Aos 12 anos, ela começou a contribuir com a produção dos pais, tocada de forma tradicional. Ao ter contato com o Sebrae/PE, a jovem descobriu formas de agregar valor à produção através do melhoramento genético. Logo de início, encontrou resistência dos pais em aplicar os novos conhecimentos na criação. Ainda assim, em 2016, ela investiu na infraestrutura para o confinamento, adquirindo bebedouro e produzindo silagem, técnica que possibilita que os animais sejam criados presos e engordem mais rápido.
“O meu pai estranhou, pois achava que os animais deveriam ser criados no sistema extensivo (100% a pasto) de forma tradicional, como ele tinha apreendido com seus pais. Depois, ele viu que com o sistema semi-intensivo, em seis a oito meses, eles estavam prontos para a venda. Antes, o tempo era de 10 a 14 meses”, recorda.
Dois anos mais tarde, em 2018, após realizar diversos cursos no Sebrae/PE, ela iniciou a técnica de melhoramento genético, realizando o cruzamento de um reprodutor Pura de Origem (P.O.) da raça Dorper com as matrizes ovinas sem raça definida, o que resultou em animais com maior carcaça e mais robustos. “A carne passou a ser valorizada e a venda acontecia bem mais rápido”, explica.
A espécie Dorper tem origem na África do Sul, na década de 1930, fruto do cruzamento das espécies Dorset Horn e Blackhead Persian. Ela se adapta bem a ambientes mais áridos, por ser mais resiliente. Outras características apreciadas na raça é a aptidão para o cruzamento, tanto para gerar variedades com maior carcaça e com mais carne, quanto por ter boa fertilidade, o que favorece a geração de reprodutores.
Em 2020, Samila resolve mergulhar fundo no conhecimento sobre melhoramento genético e emplaca um curso atrás do outro. Outro passo importante foi participar do Super Berro, um programa de apoio técnico ao pequeno produtor de ovinos e caprinos realizado pelo Sebrae/PE. Essa iniciativa garante orientação sobre produção de silagem, vacinação e todo o manejo do rebanho.
Foi através deste programa que ela adquiriu 30 embriões para dar mais um passo importante na sua trajetória: a produção e comercialização de reprodutores P.O. Dorper. Samila passou a inseminar os embriões nas ovelhas fêmeas, gerando machos puro sangue Dorper, que passaram a ser comercializados para outros criadores, interessados em atuar com melhoramento genético. Ela adquiriu 16 embriões White Dorper, variedade mais leiteira, e 14 Dorper, a variedade tradicional, que tem a cabeça preta.
Samila saiu de casa, aos 16 anos, para estudar e, ao concluir o Ensino Médio, iniciou a carreira profissional em um escritório de contabilidade. Nas horas livres, ela experimentava as novas técnicas de manejo de ovinos no rebanho do pai e, ao ver os resultados positivos, decidiu se dedicar apenas à ovinocultura. Se depender das conquistas alcançadas, a trajetória dessa empreendedora terá vida longa. “Eu pretendo dar palestras, repassar o meu conhecimento e a minha experiência para que outros produtores tenham sucesso. A gente não pode se limitar por ser mulher. Tem que acreditar e colocar as ideias em ação”, recomenda.