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A arte e a força feminina que vem da Terra da Banana

Empreendedora da Zona da Mata utiliza a fibra de bananeira para fazer peças de artesanato e transformar a realidade local
Por Samuel Santos
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A empresária Fátima Alves é a prova de que nem só o fruto pode ser aproveitado de uma bananeira. Moradora do município de São Vicente Férrer, na Zona da Mata de Pernambuco, ela percebeu que poderia fazer arte com o que até então seria descartado e ainda valorizar as raízes da sua cidade, considerada a Terra da Banana. Com criatividade e perseverança nasceu a Fio e Renda, empresa que oferece aos clientes peças únicas feitas a partir das fibras encontradas nos caules das bananeiras, que crescem aos montes na região. As primeiras peças surgiram em 2005, graças, especialmente, ao trabalho desenvolvido inicialmente por Fátima e que ganhou a adesão de outras empreendedoras.

A Fio e Renda fabrica bolsas, acessórios, cestas para presente, tapetes e tudo mais que possa ser feito com a fibra da bananeira. Os produtos são expostos em feiras e em uma loja colaborativa no centro de São Vicente Férrer, ao lado do casarão onde todo o processo é feito. Sendo assim, quem visita o espaço tem a oportunidade não só de comprar, mas também de vivenciar uma experiência única ao presenciar o trabalho sendo executado.

A ideia de aproveitar a matéria prima para confeccionar produtos sustentáveis e bonitos aos olhos nasceu como um hobby, mas logo se tornou um negócio.

Comecei de forma muito independente, sem muita pretensão. Fiz um curso de artesanato para fabricar caixinhas com a palha seca da bananeira e logo pensei: e se pudéssemos aproveitar outras partes da planta? Sou curiosa, então pesquisei, comecei a desenvolver outras técnicas e chegamos à conclusão de que era possível fazer muito com o caule da bananeira, que até então não servia para nada.

Fátima Alves, proprietária da Fio e Renda

O processo para chegar a matéria-prima utilizada na confecção dos itens é trabalhoso, mas tudo é feito com capricho, para se chegar a um bom resultado. “O tronco dá cinco tipos de fibra. Retiramos, colocamos elas para secar na sombra e depois usamos o tear para fazer uma espécie de tecido. A partir desse processo é que conseguimos confeccionar as peças”, relata. Como nada na natureza se perde, outras partes da planta também ganham vida. “O resíduo que sobra quando tiramos as fibras é cozido e fazemos o papel. As folhas também servem para artesanato criando um ciclo sustentável na cultura da banana”, completa Fátima.

A história da empreendedora inspirou outras mulheres da região, que também enxergaram o potencial econômico oriundo da exploração das riquezas da terra. Atualmente, Fátima é uma das 11 mulheres que fazem parte de uma cooperativa local, que utiliza a banana para gerar renda. Além dos produtos da fibra, o coletivo produz biojoias, utensílios e derivados da fruta, como chips de banana, licor e doces.

“Nossa ideia é dar uma identidade à nossa cidade, através do artesanato e dos derivados da banana, para que o município seja de fato a terra da banana. Eu me vejo uma vencedora. Há 10 anos não tínhamos um espaço para fazer nossas peças, e hoje é diferente. Podemos trabalhar e somos reconhecidas por várias instituições, como o Sebrae, que nos ajudou com capacitações sobre preço, marketing e gestão do negócio. É um trabalho árduo, diário, mas gratificante e que nos dá empoderamento”, reflete.