Executar movimentos simples, tais como segurar um talher ou escovar os dentes se tornam cada vez mais desafiadores para quem tem a Doença de Parkinson. Os tremores involuntários, um dos sintomas mais comuns da doença, costumam evoluir com o tempo tornando esses gestos simples quase impossíveis de serem executados. Esse foi o problema que jovens estudantes da Escola Técnica Estadual Professor Paulo Freire, de Carnaíba, a 400 km do Recife, buscaram solucionar. Eles criaram a GlovETE, uma luva que pode estabilizar os tremores involuntários dos pacientes de Parkinson. Composta por itens simples como HD e luva de academia, a tecnologia, que já mostrou eficácia, custa apenas R$90.
A GlovETE é símbolo do empreendedorismo inovador que brota da mente dos jovens sertanejos. Essa semente foi plantada durante as capacitações em empreendedorismo realizadas pelo Sebrae/PE, por meio do Programa Agente Local de Inovação (ALI). Desde então, os jovens decidiram empreender em algo que aliasse impacto social, ambiental e qualidade de vida.
Nós queríamos criar um produto que sanasse uma dor na sociedade e que fosse inovador. As aulas de empreendedorismo foram decisivas para que pudéssemos criar esse produto que vem se mostrando eficaz e que é inédito no mercado.Danilo Lima, estudante de Engenharia de Software
Saber que o número de pessoas que convivem com a Doença de Parkinson deve dobrar até 2023 foi o ponto de partida para que os empreendedores sertanejos pensassem na luva. Durante as pesquisas, os jovens viram que há produtos do tipo que podem custar até R$ 8 mil. Por isso, pensaram em criar um modelo mais barato e reuniram itens básicos como luva de academia, um disco HD, baterias, regulador de energia e uma placa arduíno, que é uma plataforma utilizada para a prototipagem de projetos inovadores.
A tecnologia que faz a luva cumprir o seu papel é o HD, que atua como um giroscópio, ou seja, um disco que, ao girar em alta velocidade, garante estabilidade às mãos. O princípio do giroscópio é o que mantém, por exemplo, a bicicleta em movimento. Ele consiste em assegurar que ao girar o eixo mantenha-se sempre na mesma direção.
Os conceitos que estão na base da luva são oriundos da robótica e da física. Os jovens desenvolveram o produto parte na sala de aula, com aulas teóricas, e parte no laboratório de robótica, local onde vêm realizando testes. “Eu não imaginava que a robótica fosse acessível para nós, aqui no Sertão, e que ela poderia criar soluções para melhorar a vida das pessoas”, afirma Danilo.
Os testes provaram que a tecnologia cumpre o seu propósito, ou seja, estabilizar os tremores. No entanto, a invenção ainda passa por avaliações e ajustes até chegar à versão final. Nesta fase de aperfeiçoamento, o protótipo deve ganhar, por exemplo, vibradores de celular. “Eles [os vibradores] servirão como distração para o cérebro, que podem reduzir os tremores involuntários”, complementa Danilo. O Mal de Parkinson é uma doença degenerativa, que afeta as células cerebrais e tem os tremores involuntários dos músculos como um dos seus sintomas mais conhecidos.
O empreendedorismo inovador dos jovens sertanejos já colhe bons frutos. O projeto foi considerado um dos 50 melhores projetos de 2023 do Solve For Tomorrow, prêmio realizado pela Samsung que reconhece iniciativas que combinam ciência e tecnologia com o objetivo de levar qualidade de vida às pessoas. A GlovETE também brilhou no QCiência, ficando em primeiro lugar no principal evento de ciência e tecnologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Hoje, as equipes buscam apoio financeiro para acelerar as etapas de desenvolvimento do produto.