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Painel do REC’n’Play explica como empreender com Carnaval mesmo fora do período momesco

Apresentada pelo empreendedor social Pedro Verda, a iniciativa foi comandada pelo artista Leopoldo Nóbrega, no espaço Sebrae na Rua
Por Larissa Correia
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Numa terra de festejos icônicos como Pernambuco, lar de manifestações culturais riquíssimas e com grande potencial para gerar renda, o empreendedorismo ligado ao Carnaval não precisa estar limitado aos dias oficiais da Folia de Momo e período preparatório para evento. Essa abordagem foi destaque no último sábado (09), no painel de encerramento do Sebrae na Rua, espaço exclusivo da instituição no REC’n’Play 2024. A mobilização reuniu Pedro Verda, fundador do laboratório global de inovação social Verda, e o artista plástico e cenógrafo Leopoldo Nóbrega – que, entre outras “atribuições artísticas”, responde pelo processo criativo da escultura do Galo Gigante, majestade real que ocupa a Ponte Duarte Coelho durante os festejos momescos no Recife.

“Estamos no Carnaval do Conhecimento, que já se transformou numa folia fora de época do Recife. Não tem mais como encarar de outro jeito. Chegou outubro, novembro, a gente já espera o REC’n’Play, nosso novo carnaval, reunindo conhecimento, inovação, bloco na rua e muitas pessoas passando pelo Bairro do Recife”, comparou Pedro Verda. Ele falou sobre a iniciativa para transformar a festa momesca permanentemente em algo gerador de receitas e oportunidade o tempo todo no estado. “O Carnaval é uma das nossas principais ferramentas econômicas e podemos potencializá-la mais do que estamos usando”, comentou.

O fashion designer e ceramista Leopoldo Nóbrega falou da empreitada em parceria com Pedro Verda para buscar na Folia de Momo uma fonte de renda constante em Pernambuco, especialmente entre comunidades periféricas e carentes, investindo também na reutilização de materiais que são usados durante a folia, como lonas de outdoor e outros descartes. “É a tradição que olha para o futuro, a estratégia do reuse, daqueles quatro Rs que a gente tem da sustentabilidade. Parece fácil e simples, mas isso não está preparado na mente da gente. Quantas coisas a gente reutiliza dentro desse processo? Da nossa vida, dos nossos descartes? Muito mal a gente, às vezes, separa o que é orgânico do inorgânico. Então isso é o que eu chamo de mudar a visão. Deixamos de utilizar material novo para entender como isso pode ter sentido a partir de um beneficiamento criativo”, exemplificou.

Leopoldo comentou como a proposta tem sido trabalhada com pessoas de várias regiões do estado, incluindo crianças. “Não há mudança, não há inovação se não tiver a inclusão de talentos ou pelo menos o desenvolvimento deles para aquilo que queremos. Então, a partir dessa ótica, nós temos núcleos produtivos e oficinas que acontecem para geração de renda em espaços produtores do Carnaval, como a Bomba do Hemetério e bairros do entorno na Zona Norte do Recife. O núcleo de cerâmica, por exemplo, trabalha com descartes de material da indústria de construção civil, que são os revestimentos cerâmicos, e pode, através do mosaico, dar sentido a uma expressividade criativa aplicada em mil coisas, desde escadarias a objetos, a produtos, tudo com um processo sustentável”, ressaltou.

O artista plástico enfatizou que, dentro do imaginário coletivo, o Carnaval não sai da mente e questionou por que não falar dele de janeiro a janeiro.

Por que não lembrar que isso é potência e chamar atenção para esses brincantes, para toda essa cultura que o ano todo vive desse processo? O resíduo do resíduo vira souvenir, material que o turista pode levar e contar essa narrativa participando dessa economia circular local.

Leopoldo Nóbrega, artista plástico

Segundo o fashion designer, cenografia é outra linguagem que dialoga com a Folia de Momo nos 365 dias do ano. “Quem aprende a cortar, costurar, pintar, a entender os materiais, pode aplicar tudo isso depois de forma infinita. Uma capacitação não começa em janeiro para em fevereiro a gente entregar uma escola de samba. Ela precisa ser feita o ano todo. O Rio de Janeiro já entende isso. Eles tiram três meses de férias e nos outros meses as agremiações se formam dentro desse ecossistema de negócio. Recife ainda não tem isso. Quando passa o Carnaval, os brincantes abandonam e vão para os balcões fazer outra coisa, a arte fica esquecida. Então é isso que a gente tenta lembrar da importância”, reforça.

Na palestra de encerramento do Sebrae na Rua, Leopoldo Nóbrega realçou que, seja Natal, São João ou outras datas sazonais, o mercado precisa de cenógrafos, cenotécnicos, decoradores, vitrinistas para as lojas. Tudo isso pode ser desenvolvido a partir da mesma lógica do período momesco. “Turismo em Pernambuco movimenta quase R$ 3 bilhões durante o Carnaval e, depois dele, o que acontece? Temos que aproveitar esse vácuo e trazer essa onda para as nossas comunidades, para as nossas realidades, para os núcleos que podem vir, para os artesãos, os artistas, os aderecistas, as costureiras, os costureiros. Tudo isso é potência que vira fonte de inovação e geração de renda”, completou.