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Carnaval é sinônimo de alegria, momento esperado por muitos que veem no período a chance de extravasar, colocar para fora as emoções represadas durante todo o ano. Mas, a Folia de Momo também significa oportunidade, enchendo de brilho, cores e esperança os olhos de empreendedores, que se dedicam para fazer da festa em Pernambuco, grandiosa e inesquecível. Do Litoral ao Sertão, os pequenos negócios se articulam para deixar tudo pronto até o toque dos clarins. O trabalho é árduo, mas o reconhecimento vem no sorriso de quem se entrega à folia.

No alto Sertão do Pajeú, o destino de muitos brincantes no Carnaval é uma cidade de clima predominantemente frio durante o ano, mas que esquenta quando chega o período momesco. Em Triunfo, o desfile dos Caretas, mascarados que ganham as ruas há mais de 100 anos com seus chicotes, é resultado de um trabalho dedicado e caprichoso de muitos artesãos. Um deles é Mateus Washignton, que nos meses que antecedem a folia se volta para a confecção de toda a indumentária do mascarado.

O trabalho é fruto de uma tradição familiar e de muito amor ao Carnaval.

“Comecei por influência do meu pai, Nino Abraão Alves, o mestre Nino, que sai como careta desde os 10 anos de idade e passou a tradição para mim e meu irmão. Ele fazia oficinas e, como filho e aluno, aprendi o ofício. Desde então, confeccionamos toda a indumentária e adereços, não apenas as máscaras, mas também o chapéu, tabuleta e o relho, tradicional chicote do careta. 

Mateus Washignton, artesão

Além de produzir a vestimenta, assim como o pai, Mateus participa ativamente da festa, ao lado dos outros integrantes da treca, nome dado ao grupo de caretas. Quando os personagens ganham as ruas de paralelepípedo da cidade sertaneja, com suas pisadas fortes, pulos e estalos é impossível não se encantar. “Dá um certo trabalho confeccionar toda a vestimenta, faz calor na fantasia, mas quando desfilamos no Carnaval a sensação é de alegria, emoção e de que valeu a pena todo o esforço”, revela.

Por falta de apoio, a cultura não é a principal fonte de renda do empreendedor, que durante outros períodos se dedica ao trabalho como autônomo. Quando surge oportunidade, a treca de Mateus se reúne para apresentações culturais em eventos públicos e privados. Perto do Carnaval, além de confeccionar o traje para o desfile, Mateus produz máscaras para serem comercializadas dentro e fora da cidade. O trabalho é todo artesanal, por meio de uma técnica de colagem. “A máscara é feita por meio de molde, que pode ser um balão de festa. Usamos papel reciclado e colamos camada por camada, com uma cola feita com fécula de mandioca. São de 30 a 45 camadas, quanto maior, mais resistente. Antigamente, se fazia com couro, mas desgastava bastante”, explica.

De pequeno negócio a símbolo cultural

No Agreste pernambucano a folia também pulsa. Em Caruaru, principal cidade da região, uma tradição passada por gerações se mantém viva em forma de alegria. O tradicional Bloco da Sucata nasceu na calçada de um pequeno negócio localizado na Rua João Condé, no Centro: um bar fundado nos anos 1950 por Pedro Sucata. Com o passar do tempo, o empreendimento virou mais que um espaço para reunir amigos, beber e conversar. A atual Confraria da Sucata já é parte da história da cidade, responsável por reacender a chama do Carnaval de rua.

Byron Lasserre, neto de Pedro Sucata, é o responsável por continuar o legado da família. Durante o ano, o bar funciona normalmente, mas no sábado pré-Carnaval ele se transforma no ponto de encontro dos foliões.

Começou como uma brincadeira, com apenas cem pessoas na rua, agora já batemos a casa dos 40 mil participantes. Tomou uma proporção gigante, fez o nosso negócio crescer e ficar conhecido e já faz parte da cultura caruaruense e do calendário do Carnaval de Pernambuco, e isso nos deixa muito honrados.

Byron Lasserre, empreendedor

A Confraria da Sucata também marca presença em outras épocas do ano, a exemplo do período junino. “Temos o menor São João do Mundo, que vai na contramão do pensamento de megalomania do maior São João do Mundo, além do aniversário da Sucata, no segundo semestre, e o Rolê do Vinil, com música e feirinha, dando oportunidade para artesãos e pessoas que empreendem na gastronomia. Eu acho que a Budega, mesmo não sendo nenhuma, vamos dizer, debutante, já com seus 75 anos, sempre está na vanguarda da cultura de Caruaru”, reforça.

Alegria mascarada

Ainda nas margens da BR-232, principal via de acesso a cidades do Agreste, está Bezerros, município a 104 km do Recife que é conhecido por uma tradição centenária. No Carnaval, os papangus ganham as ruas do município e encantam de brilho e alegria moradores e turistas. Quem quer participar da festa é sempre bem-vindo, basta colocar sua máscara e entrar na onda.

Das mãos do aposentado José Pedro Soares nascem máscaras de todos os tipos, com desenhos variados frutos da criatividade do empreendedor, que viu na arte um caminho para voltar a ter dignidade.

“Eu sempre trabalhei com construção civil, mas na época fui demitido. Então, por curiosidade, comecei a ver o trabalho de alguns colegas da cidade que eram artesãos, fazendo essas máscaras. Eu disse: vou aprender a fazer máscaras, pelo menos ocupo a mente. Fui aprendendo, gostei. Já vai fazer mais de 30 anos, e até hoje eu continuo como artesão, fazendo as máscaras.

José Pedro Soares, artesão

Pedro confecciona as máscaras tradicionais do Carnaval de Bezerros e peças mais simples para quem pretende cair na folia mascarado. Estes acessórios são feitos com jornal e colados com grude de goma, uma mistura de farinha e água. O material é colocado em um molde e, depois de secas, as máscaras são pintadas. Os desenhos e curvas surgem na hora, saem da cabeça do artista. “A gente vai riscando, pintando e a peça vai surgindo. Todas são únicas, a pintura a gente nunca faz igual”, explica o artesão.

Para o empreendedor da folia, o ofício é mais que trabalho, é orgulho de contribuir para a continuidade de uma tradição. “Os turistas que vêm de fora, de outros estados, de outros países, ficam tirando foto, aquelas coisas. É muito gratificante, bate uma alegria tão grande ver alguém achando bonito o que você fez. Às vezes, quando chega um cliente de fora e compra aquela máscara bonita eu fico triste, mas depois fico feliz, porque eu sei que o turista está levando algo nosso para sua cidade, para o seu estado”, comenta com um sorriso.

As máscaras de Pedro são vendidas entre R$30 e até R$150, dependendo do tamanho. A produção para o Carnaval deste ano está a todo vapor, com mais de 200 peças confeccionadas não apenas para clientes de Bezerros, mas de outras cidades pernambucanas e até de fora do estado. Fora do período momesco, o artesão se dedica à fabricação de máscaras para venda em feiras e encomendas para turistas, além de capacitações para grupos de jovens da cidade. “Enquanto eu tiver força vou levantando o nome da minha cidade e isso é importante pra mim, sabe? Eu gosto de valorizar nossa cultura e só paro de fazer máscara quando morrer”, conclui.

A arte de empreender

Criatividade e capacidade de se reinventar são marcas do artista plástico Leopoldo Nóbrega, responsável pela missão grandiosa de dar vida ao gigante do Carnaval de Pernambuco. Da mente do empreendedor nasce o conceito do Galo Gigante, que reina na Ponte Duarte Coelho, no Recife, durante os dias de folia. Algumas edições da escultura, famosa mundialmente, foram assinadas por ele – ao todo, sete carnavais, incluindo o deste ano.

A inspiração para os trabalhos que encantam locais e visitantes vem das vivências e da pernambucanidade do artista. “Minha relação com o Carnaval de Pernambuco começou muito cedo, na adolescência, quando passei a frequentar manifestações de cultura popular. Sou contemporâneo do movimento mangue, maracatu, afoxé e coco. Também tive oportunidade de conhecer muitas expressões culturais no interior do estado. Tudo isso é um manancial que me alimenta desde muito cedo”, explica Leopoldo.

Apaixonado pela festa, Leopoldo vê no Carnaval mais do que um trabalho – para ele, é uma oportunidade de se reinventar como empreendedor da folia.

Ser um empreendedor de Carnaval é entender a economia criativa como potência e reconhecer que a arte pode ser esse elo de transformação de materiais, de sentidos, de valores e, sobretudo, de renovação das tradições. Acho que o Carnaval não pode acabar na Quarta-Feira de Cinzas. A festa é uma culminância, fruto de uma construção que dura o ano inteiro.

Leopoldo Nóbrega, artista plástico

Além da dedicação ao Galo e a outras tradições tipicamente carnavalescas, o artista plástico também se envolve com a moda e mantém o espaço cultural Arte Plena, um laboratório de processos artesanais onde pessoas e coletivos se reúnem para experimentar diversas linguagens da arte.

Folia é um bom negócio

O Carnaval de Pernambuco é um verdadeiro motor para a economia criativa, movimentando não apenas grandes, mas também pequenos negócios que fazem a festa ser do tamanho que ela merece. Desde costureiras e artesãos até músicos e vendedores ambulantes, o Carnaval gera oportunidades para milhares de empreendedores, que se reinventam a cada edição. A dedicação dos empreendedores da folia reforça o papel da cultura como ferramenta de transformação e desenvolvimento econômico, uma das bandeiras defendidas pelo Sebrae.

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