Em Itapissuma, onde a pesca faz parte do cotidiano da população, o descarte incorreto de cascas de ostras virou ponto de partida para uma ideia inovadora. Um grupo de alunas da Escola Municipal João Bento de Paiva, integrantes de um Clube de Ciências, olhou de perto para o problema e transformou o resíduo em um novo produto: a biocerâmica. A solução, simples e sustentável, garantiu à equipe uma das vagas de Pernambuco na etapa nacional do Desafio Liga Jovem 2025 – maior competição nacional estudantil de empreendedorismo de impacto. Além deste, outros dois projetos pernambucanos seguem para Belém (PA) para a fase final da disputa: o TupiPC, de Igarassu, que promove inclusão digital, e o Verdejar, da UFPE, que usa inteligência artificial para facilitar a arborização urbana.
A edição deste ano do Desafio Liga Jovem registrou mais de 62 mil estudantes inscritos, um crescimento de 15% em relação a 2024. Também houve aumento expressivo no número de projetos: mais de 5 mil soluções de impacto foram submetidas, representando um salto de 55% sobre o ano anterior. Em Pernambuco, foram mais de 4,1 mil inscritos, entre estudantes e educadores, e mais de 320 projetos validados para participar do DLJ. As equipes passaram por bancas estaduais entre agosto e setembro, e os melhores projetos de cada categoria – Ensino Fundamental, Ensino Médio, Técnico e Profissional e Educação Superior – garantiram vaga na Missão Técnica Nacional.
Para o especialista em Inovação do Sebrae/PE, Danilo Lopez, esse tipo de maratona é muito valioso porque aproxima estudantes e educadores de metodologias ativas, especialmente aquelas baseadas em aprendizagem por projetos.
Quando estimulamos os jovens a idealizarem e a desenvolverem soluções a partir de desafios reais, estamos contribuindo para sua formação não apenas educacional, mas também profissional, pessoal e empreendedora. Investimos nesse modelo porque acreditamos que preparar os estudantes para o futuro significa fortalecê-los em sustentabilidade, inovação e, acima de tudo, protagonismo.
Danilo Lopez, especialista em Inovação do Sebrae/PE.
Bioplacas de casca de mariscos e protagonismo feminino
O projeto que representará Pernambuco na categoria Ensino Fundamental nasceu de um clube de ciências formado exclusivamente por meninas na Escola Municipal João Bento de Paiva, em Itapissuma. A equipe é orientada pela professora Maria Eduarda Santos, recifense formada em Geografia pela UFPE, com pós-graduação em docência e prática da Geografia.
Foi desse espaço curiosidade científica que surgiu a biocerâmica feita a partir de cascas de ostra, desenvolvida por Maria Eloísa e Giovana Andrade, ambas de 14 anos. A ideia ganhou forma a partir de um problema muito presente na cidade, onde parte significativa da população vive da pesca: o descarte irregular de cascas de ostras, que provoca acidentes, chegando até a afastar pescadores de suas atividades.
A equipe mergulhou na realidade da comunidade, conversou com pescadores, visitou a colônia local e mapeou impactos desses resíduos. O resultado dessa investigação foi uma bioplaca decorativa produzida com matéria-prima gratuita, coletada com ajuda de familiares, comerciantes e moradores. O processo envolve limpeza, trituração manual e moldagem em silicone reutilizável.
Além de se destacar em feiras científicas, o grupo viu no DLJ uma oportunidade inédita de desenvolver o olhar empreendedor do projeto. “Nunca tínhamos pensado no lado do empreendedorismo, estávamos mais voltadas à divulgação científica. O Desafio Liga Jovem fez a gente sair da nossa caixinha”, conta a professora Maria Eduarda.
TupiPC: computador de baixo custo criado por estudantes do Ensino Médio
Na categoria Ensino Médio, Técnico e Profissional, o destaque veio da Escola de Referência em Ensino Fundamental e Médio (Erefem) Nova Cruz, em Igarassu, com o projeto TupiPC – um computador educativo, modular e acessível, criado por três estudantes do 1º ano, sob orientação do professor de Sociologia Carlos Adrian Rupp. A ideia nasceu de uma realidade simples e direta: o interesse dos alunos por informática contrastava com a dificuldade de adquirir computadores devido ao valor.
“Nosso projeto é um computador de baixo custo. A meta era fazer o computador mais barato do Brasil. Para isso, eles foram escolhendo peça por peça e definindo as características do sistema, tudo sendo decidido por votação e sempre focando na simplicidade para ser acessível e viável dentro do conhecimento de todos”, explicou o professor Carlos Adrian Rupp.
Verdejar: projetos de arborização urbana com IA
Representando Pernambuco na categoria Educação Superior, o projeto Verdejar foi desenvolvido por estudantes do Centro de Informática da UFPE: Artur Machado, Felipe Oliveira, Guilherme Braga e Thiago Pereira, sob orientação do professor Matheus Pablo Oliveira da Luz. A solução propõe uma plataforma que conecta empresas, escolas, ONGs e comunidades com o objetivo de desburocratizar e facilitar ações de arborização urbana. Utilizando inteligência artificial, o sistema identifica áreas prioritárias de plantio, sugere espécies nativas ideais e conecta automaticamente a demanda a viveiros locais.
Competição
Para participar da fase nacional, os três times embarcam para Belém, onde participarão de bancas presenciais com equipes de todo o Brasil, a partir do próximo dia 29 de novembro. As duas melhores apresentações de cada banca avançam para a grande final. No total, nove equipes serão premiadas nacionalmente, três por categoria. A premiação inclui viagem internacional (1º lugar), notebooks (2º lugar) e smartphones (3º lugar).

