Os holofotes do cinema mundial estão, mais uma vez, apontados para Pernambuco. Neste final de 2025, a repercussão internacional de O Agente Secreto, a nova obra de Kleber Mendonça Filho e forte candidata ao Oscar, reafirma que o estado não vive apenas de talentos isolados, mas de uma consistência criativa que remonta a sucessos anteriores como Aquarius (2016) e o icônico Edifício Oceania. Cinema é um gatilho para múltiplas emoções. As histórias na tela nos fazem refletir e pensar, emocionam, revoltam, fazem rir e aplaudir. Mas, para chegar ao olhar do espectador, muita gente precisa trilhar um longo — e, às vezes, árduo — caminho. Talvez este seja um bastidor pouco conhecido dos cinéfilos e admiradores do trabalho persistente de Kleber Mendonça Filho .
A indústria audiovisual, braço essencial da economia criativa, é movida pelo empreendedorismo, desde o trabalho exercido por diretores, atores e roteiristas até o vendedor de pipoca em frente ao Cinema São Luiz, no Recife, uma das salas de exibição mais antigas do Brasil. É um ecossistema complexo e vibrante, onde a paixão pelo ofício caminha lado a lado com o desafio de empreender. Para garantir que o espetáculo continue, essa engrenagem precisa de suporte e profissionalização — terreno onde o Sebrae/PE entra em cena como parceiro estratégico, criando o ambiente de negócios necessário para fortalecer cada elo dessa produção.
Esse mercado no Brasil concentra 11.342 pequenas e médias empresas e só em 2019 movimentou R$ 56 bilhões no Brasil, de acordo com relatório da Motion Picture Association em parceria com a Oxford Economics, com dados coletados em 2022. O setor não beneficia apenas grandes estúdios e produtoras renomadas, mas fomenta a economia e o desenvolvimento regional, gerando emprego e renda para quem atua direta e indiretamente em produções audiovisuais, sejam elas longas ou curtas-metragens.
Em Pernambuco, o cenário audiovisual é pujante, sempre com gente pensando, produzindo e distribuindo obras que extrapolam os limites geográficos do estado, chegando até os olhos dos mais aclamados críticos do setor. A atual prata da casa é o longa “O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho, diretor com outros sucessos no currículo, a exemplo do impactante e ousado Bacurau. A história, contada no Recife dos anos 1960, com elementos locais e críticas ao regime militar da época, é cotada como um dos representantes do Brasil na disputa pelo Oscar 2026. A ideia é repetir o feito do também brasileiro “Ainda Estou Aqui”, vencedor na categoria de melhor filme internacional neste ano.
A indústria cinematográfica do Brasil está em um dos seus melhores momentos, mas isso é uma construção coletiva, fruto do esforço de pessoas que fazem parte desse mercado e vêm batalhando há décadas. O cinema sempre foi visto como entretenimento, atividade feita entre amigos, sem grande investimento, apenas pelo prazer da arte. E, ao longo do tempo, esse mercado vem se profissionalizando e, com isso, colocando a produção brasileira em outro patamar, com histórias que despertam interesse, boas equipes técnicas e participação em festivais nacionais e internacionais
Silvana Marpoara, professora, produtora cultural e documentarista.
Um dos grandes gargalos do cinema nacional ainda é o financiamento. Apesar de mecanismos importantes introduzidos ao longo do tempo, como as leis Rouanet e do Audiovisual, instituídas nos anos 1990; a criação da Agência Nacional do Cinema (Ancine) e do Fundo Setorial do Audiovisual, nos anos 2000; e, mais recentemente, as leis Aldir Blanc e Paulo Gustavo, quem depende de captação de recursos para realizar produções audiovisuais ainda enfrenta dificuldades. Para a especialista, uma das alternativas é incentivar grandes empresas a desenvolverem uma cultura de apoio ao setor.
“As empresas que investem na produção cinematográfica se beneficiam muito por meio das leis de incentivo, por conta do direcionamento financeiro de seus impostos. Mas o mercado acaba envolvendo outros personagens, como pequenos empreendedores que, por conta de uma filmagem numa pequena cidade, por exemplo, acabam vendendo mais e gerando novas oportunidades de trabalho naquele local. Ou seja, é um setor que contribui massivamente para o desenvolvimento da economia local”, explica Silvana.
A arte de criar
O desejo de contar histórias de um jeito diferente fez o jornalista Alessandro Guedes deixar as redações de emissoras de TV do Grande Recife para se aventurar no cinema. Assim nasceu, em 2011, a Recife Produções, com catálogo repleto de documentários que enaltecem a cultura pernambucana e seus personagens. A obra mais recente da produtora é a série Andante, com narração do Maestro Forró, exibida na TV Globo e disponível em grandes canais de streaming, como Amazon Prime Video e Vivo Play.
Saí da televisão para o cinema em busca de liberdade de criação. Comecei de maneira informal e hoje a Recife Produções se enquadra como uma microempresa. É um ofício difícil, em termos de captação de recursos e rentabilidade, mas ao mesmo tempo muito prazeroso. Cinema não se faz sozinho. Boa parte das produtoras de audiovisual não tem toda a infraestrutura necessária para tocar um projeto. É uma cadeia que envolve locação de equipamentos, câmera, iluminação, contratação de equipe, restaurantes, hotéis, transporte de pessoas e equipamentos, ou seja, um trabalho de formiga
Alessandro Guedes: cineasta e roteirista pernambucano

-
As produtoras são responsáveis por todas as etapas, desde o desenvolvimento da ideia no papel até a pós-produção. Depois de pronto, vem um novo desafio: despertar o interesse do público. Nesse contexto, festivais e mostras de cinema funcionam como importantes vitrines — e termômetros — para esses empreendedores da cultura e da arte. Alguns eventos locais consolidados são o Cine PE, o Janela Internacional de Cinema do Recife, o Festival de Cinema de Triunfo e o Recifest, Festival de Diversidade Sexual de Pernambuco.
Outra saída para quem encara o cinema como negócio são as oportunidades além da tela grande. Com a popularização do streaming, as produções ganham novos espaços, mais precisamente a sala de casa do público. Formatos pensados para a TV aberta, TV paga e vídeo por demanda estão em alta nos negócios audiovisuais.
“Acredito que o segredo para se manter relevante é sempre pensar fora da caixa, investindo em qualidade, inovação e buscando sempre se capacitar. A forma de captação também precisa ir além dos editais. As grandes empresas precisam compreender o poder do cinema nacional e associar sua marca a essas produções. Ainda temos muitas histórias fantásticas para contar”, revela Alessandro, que está mergulhado na produção de um documentário que conta a história do cantor e compositor Geraldo Azevedo.
Apoio estratégico
Para Pernambuco se manter como polo criativo do cinema nacional, é preciso ampliar ações estruturantes, de profissionalização e políticas públicas para o setor. Da capital ao sertão, os pequenos negócios funcionam como um motor silencioso desse ecossistema. A cadeia ampla, formada por figurinistas, maquiadores, editores e prestadores de serviços, entre outros, é especializada, e grande parte das empresas é formalizada, com índice de inadimplência considerado baixo em comparação a outros setores criativos.
Com o objetivo de fortalecer esse ecossistema e transformar a atividade audiovisual em vetor de desenvolvimento local, o Sebrae Pernambuco vem estruturando uma estratégia voltada exclusivamente para o setor, articulando políticas públicas, capacitações, ações de acesso a mercado e apoio direto à construção de film commissions municipais e estaduais.
As film commissions são, na verdade, departamentos instalados na estrutura de governos municipais ou estaduais e funcionam como facilitadoras para a realização de produções em seus territórios. Elas organizam processos, criam protocolos, orientam produções, articulam segurança, trânsito e permissões de uso de espaços urbanos. Na prática, ajudam a transformar cidades em sets de filmagem mais competitivos e atraentes.
Além das já presentes nas cidades, está em curso uma film commission pernambucana, na qual o Sebrae/PE é um dos articuladores diretos desse processo. A instituição também é co-realizadora da Film Commission de Jaboatão dos Guararapes, além de colaborar com a Film Commission do Recife, que já trabalha na criação de um roteiro turístico com locações famosas de produções pernambucanas.
A film commission funciona como um grande facilitador para a viabilidade das produções. A ideia é gerar negócios, atrair produções e movimentar a economia local. Algumas cidades, inclusive, já trabalham com políticas de cashback, devolvendo parte dos investimentos para incentivar filmagens no território”
Eduardo Maciel, especialista em economia criativa do Sebrae/PE.
Outro eixo estratégico é a qualificação dos profissionais e empreendedores do setor. Os criativos do audiovisual contam com o “Simbora Elaborar Projeto”, ferramenta que ensina empreendedores a acessarem leis de incentivo e editais culturais. Em Olinda, uma oficina de 12 horas focada na Lei Rouanet Nordeste — que contempla projetos apenas da região — mostrou aos criativos como analisar o edital, estruturar propostas e apresentar contrapartidas culturais. Após a oficina, os participantes ainda recebem mentoria individual para revisar seus projetos antes da submissão.
Nos últimos anos, o Sebrae/PE tem se dedicado a abrir portas para que produtores e criativos pernambucanos apresentem seus projetos a grandes players do mercado. Neste ano, quatro empresas do estado participaram do Nordeste Lab, em Salvador, e tiveram a oportunidade de apresentar seus projetos a representantes de Netflix, Canal Brasil, Globoplay e outras empresas nacionais e internacionais.
O Sebrae também apoiou o Tela Cine PE, consolidado como um dos principais eventos de mercado audiovisual do Nordeste. Para 2026, a instituição planeja ampliar essa presença, ajudando o estado a consolidar uma estratégia que pode se tornar, inclusive, piloto nacional do Sistema Sebrae para o setor audiovisual.
Cinema, campo de oportunidades
Os dados da Ancine apontam um horizonte promissor para quem deseja investir. O setor já é um gigante na geração de renda, responsável por mais de 650 mil empregos diretos, indiretos e induzidos no país. E há espaço para crescer: enquanto o Sudeste concentra a maior parte das produtoras, o Nordeste, com seus 1.542 negócios formalizados, desponta como um mercado em ascensão, longe da saturação.
Na ponta da exibição, o cenário revela um vasto público consumidor a ser conquistado. Hoje, o acesso às salas na região cobre 42,3% da população — e em Pernambuco, quase metade dos cinemas está na capital. Isso indica uma demanda reprimida e uma oportunidade estratégica para a interiorização do circuito, seja através de novas salas físicas, cinemas itinerantes ou novos modelos de negócio que levem à produção audiovisual para além dos grandes centros.
O “efeito multiplicador” nos serviços
As oportunidades não se restringem a quem segura a câmera ou exibe o filme. Existe um vasto campo de atuação para quem orbita as grandes produções. Um set de filmagem demanda uma cadeia voraz de serviços: do buffet que alimenta a equipe à logística de vans e caminhões; da segurança privada à marcenaria especializada em cenários; da rede hoteleira ao turismo de experiência nas locações famosas. Para o Sebrae, cada fornecedor desse entorno é um empreendedor em potencial, que precisa de preparo para atender aos padrões de exigência de uma indústria de classe mundial.
SERVIÇO:
Quer empreender no Audiovisual? O Sebrae/PE oferece consultorias especializadas e ferramentas para quem quer transformar arte em negócio.
Vamos elaborar projeto: Aprenda a formatar propostas para editais e leis de incentivo (Rouanet, Paulo Gustavo e Aldir Blanc).
Consultorias de gestão: Apoio para formalização, finanças e plano de negócios para produtoras e prestadores de serviço.
Mais informações: Acesse sebrae.com.br/pernambuco ou ligue 0800 570 0800.

