Com um notável número de mulheres assumindo o papel de proprietárias de negócios, o empreendedorismo feminino vem mostrando sua força em Pernambuco. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) do IBGE revelam que, atualmente, elas são donas de 30% dos negócios do Estado – ao todo, são mais de 376,1 mil empreendedoras. Pesquisa realizada pelo Sebrae revela, contudo, que no universo dos pequenos negócios, além dos desafios comuns aos empreendedores, as mulheres ainda esbarram em obstáculos como preconceito, falta de apoio no núcleo familiar e a rotina com os afazeres domésticos e com o cuidado da família.
Na hora de abrir um negócio, por exemplo, as mulheres pernambucanas foram apoiadas, principalmente, por clientes e fornecedores (69%), com pais (59%) e cônjuges (54%) completando o ranking. Já os homens, segundo o estudo, receberam maior apoio dos cônjuges (78%), clientes e fornecedores (76%) e amigos (57%). Quando questionadas sobre as pessoas que a apoiam no momento atual do seu negócio, o resultado é ainda mais impactante: apenas 50% das mulheres são apoiadas pelos seus cônjuges – a menor média do país. Em seguida, aparecem os pais (38%) e os clientes e fornecedores (28%). Já entre os homens, os cônjuges permanecem como maiores apoiadores (78%), além dos amigos (50%) e dos clientes e fornecedores (48%).
A desigualdade também reside na quantidade de tempo diário gasto em cuidados relacionados à casa. Em média, as empreendedoras pernambucanas gastam 3,1 horas cuidando de pessoas da família, contra 1,8h dispensadas pelos homens que são donos de pequenos negócios. Com relação aos afazeres domésticos, enquanto as donas de negócios gastam 2,7h nessas atividades, os homens dedicam 1,7h. Não à toa, 76% das pernambucanas demonstraram alta identificação com o seguinte questionamento: já se sentiu sobrecarregado por ter de cuidar da empresa, dos filhos ou crianças ou idosos ou parentes ao mesmo tempo? Entre os homens, 64% responderam da mesma forma.
Além disso, 30% das respondentes em Pernambuco também afirmaram já ter sofrido preconceito no seu negócio por ser mulher. Coordenadora estadual do Sebrae Delas em Pernambuco, Maria Eduarda Rocha ressalta que os números revelam a persistência do estigma de gênero no âmbito do empreendedorismo feminino. “As mulheres empreendedoras enfrentam uma série de desafios muito complexos na sua trajetória empreendedora. Elas recebem menos apoio e menos acesso a financiamentos e ainda precisam manter um equilíbrio muito delicado entre a vida pessoal e a profissional. Nós percebemos dificuldades de formação de parcerias comerciais, disparidade salarial e até oportunidade de crescimento”, pontua.
Para ela, o caminho para contornar esses desafios reside, sobretudo, na capacitação, no fortalecimento das softskills e na formação de novas redes de apoio, inclusive envolvendo outras mulheres empreendedoras. “Por meio do Sebrae Delas, por exemplo, é possível participar de cursos e adquirir conhecimentos sobre liderança e gestão empresarial. Além disso, há a própria rede de apoio que se forma dentro dessa comunidade”, frisa. “Também é preciso fortalecer a rede de instituições que apoiam as mulheres empreendedoras, como bancos que oferecem crédito para elas, para que consigamos diminuir essas disparidades”, conclui Maria Eduarda Rocha.