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Humorista Ítalo Sena revela segredos para transformar o humor digital em modelo de negócios no REC’n’Play 

Pernambucano destaca a importância da autenticidade e da visão empreendedora para se destacar no cenário digital 
Por Larissa Correia
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Acostumado a arrancar risadas com as pegadinhas publicadas tanto no YouTube e redes sociais quanto nas apresentações de stand-up comedy, o humorista pernambucano Ítalo Sena mostrou que também sabe falar sério. O artista foi o convidado especial de um bate-papo sobre criação e transformação de conteúdo digital em negócios, que atraiu uma multidão para o Sebrae na Rua, espaço exclusivo da entidade durante o REC’n’Play, na Avenida Rio Branco. A conversa, realizada na tarde da última sexta-feira (08), foi mediada por Thiago Suruagy, gerente de Marketing e Comunicação do Sebrae/PE, que iniciou o diálogo questionando o artista sobre vida empreendedora, processo criativo e aprendizados nessa primeira década de carreira.

O influenciador digital contou que sua trajetória de sucesso começou ao acumular a produção de vídeos para o canal do YouTube “Tá Gravando” com as aulas de personal trainer no Recife, uma rotina intensa que durou alguns anos. Naquela época, os vídeos tinham cerca de 200 visualizações, até que Ítalo decidiu mudar o foco para pegadinhas. Ele considerava um sucesso quando uma delas alcançava mil visualizações – atualmente, as estatísticas mostram uma média de 910 mil visualizações para cada um dos quase 400 vídeos ativos no canal, que se aproxima de dois milhões de inscritos. Somando outras redes sociais, como TikTok, X e Instagram, são pelo menos 12 milhões de fãs acompanhando as publicações do comediante.

“Eu gravava vlogs no meu quarto. Pegava uma câmera, mas era muito difícil, pois eu não tinha a mínima ideia do que estava fazendo, e as coisas não aconteciam, porque praticamente ninguém assistia. Eu não sabia onde aquilo poderia chegar, mas tinha muita vontade de fazer conteúdo para a internet e levar humor para a galera”, recordou. A virada veio nove anos atrás com a pegadinha em que fingiu chegar atrasado no Enem por ter caído em um buraco na calçada. A encenação em frente aos portões fechados da Unicap atraiu a atenção da imprensa, repercutiu nacionalmente e garantiu a primeira monetização para o canal.

O humorista ainda demorou alguns anos para abandonar a carreira como profissional de educação física e se dedicar exclusivamente ao YouTube.

Isso foi muito importante na minha trajetória porque sempre fiz conteúdo no qual acreditava, e não apenas para viralizar. Tentava fazer algo diferente, porque não queria ser só mais um. Quero deixar minha marca, ter algo único. Que o público, ao assistir, perceba que o que faço é diferente. Talvez eu não tivesse tanto a mentalidade do que poderia agregar para mim, mas consegui fidelizar um grupo muito grande.

Ítalo Sena, humorista e influenciador

Sobre os bordões que estão na boca do povo, como “Aguarde o processo” e “Posso mostrar meu trabalho?”, ele explica que surgiram espontaneamente, parte de seu jeito de falar, e viraram uma marca. “Meus bordões são todos patenteados. Se alguém quiser comercializar a marca Leigo, por exemplo, não vai conseguir. Virou um modelo de negócios mesmo”, enfatizou Ítalo.
Thiago Suruagy comentou que o humorista tem um perfil empreendedor peculiar, reforçado pela autoconfiança e pelas escolhas estratégicas que fez ao longo do caminho. “Muitas vezes as pessoas dizem: ‘esse cara é arrogante, se acha muito’, mas é necessário evitar as armadilhas das trends das redes sociais, por exemplo. O mercado costuma focar no consumo imediato, e, com isso, a pessoa perde sua identidade, algo muito difícil de recuperar,” acrescentou.

Para quem pergunta como o artista alcançou o sucesso e se mantém em alta, Ítalo Sena lembra de que isso depende do objetivo de cada um. “Digo que talvez eu não tenha escolhido nem o melhor nem o caminho mais indicado, porque hoje o próprio algoritmo das redes ajuda a fazer o que todo mundo faz. É até mais fácil crescer assim, mas falta identidade. Então optei por um caminho diferente, muito mais longo, mas, pela minha experiência, com recompensa maior. Mesmo com números menores, eu conseguia realizar muito mais coisas. Marcas me procuravam para visitas, eventos para participar, etc. E havia pessoas com números maiores, mas com menos visibilidade. Então, se você confia no que faz, acredita que pode seguir um caminho próprio e quer criar sua identidade, vale muito a pena”, afirmou.

Criador e intérprete de pegadinhas com grandes doses de coragem e “cara de pau”, Ítalo Sena compartilhou com o público no Sebrae na Rua que hoje possui uma nova visão sobre seu conteúdo, o qual, em certos momentos, poderia ter levado a desfechos perigosos. “No início, eu estava focado em viralizar e seguia todas as sugestões que os seguidores enviavam. As pessoas começaram a me reconhecer como ‘o cara louco das pegadinhas’, mas eu queria ser engraçado. O que eu faço tem que ter graça, não apenas a loucura”, disse.

Thiago Suruagy elogiou a atenção de Ítalo à interação com o público e as mudanças que ele adotou a partir do feedback dos seguidores. “Isso é excelente para qualquer negócio. Muitas vezes olhamos para as redes sociais apenas para publicar, divulgar, se expor, mas elas também podem oferecer muita inteligência na análise de como as pessoas interagem com você, o feedback da audiência e o perfil do público”, explicou. Segundo ele, essa é uma lição importante para empreendedores: entender o que é dito e saber o que precisa ser ajustado com base nas interações.

Entre os planos futuros, Ítalo Sena pretende finalizar a atual turnê e iniciar uma terceira pelo país com seus shows solo de stand-up comedy. Ele também quer retomar as pegadinhas em outras cidades, com a meta de gravar em todas as capitais brasileiras. Nessa missão, conta com o apoio de roteiristas, equipe de produção e outros profissionais que o ajudam a dar conta dos compromissos.

Ítalo Sena deixa dicas para quem pretende se aventurar no ambiente virtual. “Primeiro de tudo, comece, mesmo que o mercado pareça saturado. Tem gente que diz que não tem uma câmera boa ou alguém para filmar, então se vire. Eu filmava pelo celular, precisava da ajuda de uma amiga e só tinha o domingo para gravar, porque dava aula de segunda a sábado. Mesmo assim, fui em frente. Dificilmente o conteúdo será bom no início. O meu também não era. Quando vejo meus vídeos antigos, acho muito ruins, tenho até vergonha de olhar. Mas comece, vá fazendo e postando. Até as plataformas ajudam, como o reels, que não existia no meu tempo”, completou.