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Startup cria equipamentos que tornam a produção de peixe mais sustentável

Smart Rural realiza análise das condições da água para que, a partir de dados, o aquicultor reduza o consumo de energia, uso de ração e gere menos resíduos
Por Adriana Amâncio
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Uma das questões mais importantes para se refletir neste dia 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, é como as cadeias produtivas podem reduzir o impacto ambiental das suas atividades. A startup Smart Rural provou que isso é possível ao usar a tecnologia para reduzir os resíduos gerados na aquicultura. Ela desenvolveu equipamentos que analisam as condições da água, permitindo controlar a aeração, que é o processo de dissolução do oxigênio na água, e a oferta de ração às espécies aquáticas. Assim, também é possível reduzir os resíduos gerados pelo alimento lançado aos peixes.

Os empreendedores envolvidos na criação da startup, que são pesquisadores e professores da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), sentiam-se inquietos ao ver que as produções acadêmicas não saiam do papel. Pesquisador e sócio fundador da Smart Rural, Obionor Nóbrega diz que sempre acreditou que a UFRPE, por ter uma ênfase no agronegócio, poderia contribuir com a agricultura 4.0.

Nós queríamos transformar paper [artigo científico] em PIB. A Smart Rural surge para tirar da gaveta esses projetos acadêmicos e levá-los a ter um impacto real na sociedade.

Obionor Nóbrega, pesquisador e sócio fundador da Smart Rural

Segundo o Anuário da Peixe BR 2023, Pernambuco é o 10º estado em produção de peixes no Brasil, com 31,9 mil toneladas ao ano. Para ampliar o crescimento sem gerar resíduos em excesso, a startup Smart Rural, criada em 2021, desenvolveu dois equipamentos: o Aquatic e o AeroSmart – Inteligência Artificial para o Aerador.

Qualidade da água

O Aquatic, que é movido a energia solar, serve para aferir a qualidade da água do tanque em tempo real, transformando as informações em dados que são armazenados em um software. Esses dados auxiliam os produtores a realizarem um manejo assertivo da produção. O equipamento indica, por exemplo, o oxigênio dissolvido, a temperatura e o PH – o índice de acidez e alcalinidade da água. Com essas informações, por exemplo, é possível identificar a hora e a quantidade certa de ração a ser oferecida aos peixes. O professor do Departamento de Computação e sócio pesquisador da Smart Rural, Obionor Nóbrega, explica que a tecnologia é cômoda, e precisa.

“A tecnologia tem alarmes que disparam, sempre que a algum parâmetro da água está fora do nível desejado, evitando desperdícios de ração, manejo da água excessivo e perdas da criação, possibilitando assim a diminuição dos custos de produção com maior segurança para o produtor”, explica. O Aquatic dispensa o uso de energia de origem hidrelétrica: ele possui uma placa solar acoplada, que garante o seu funcionamento.

Para chegar ao atual estágio de produto mínimo viável, a Smart Rural contou com o incentivo de vários editais de fomento científico e tecnológico. Inicialmente, o grupo venceu três editais, sendo o primeiro deles o Pro Startup da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco (Facepe). Além disso, tiveram incentivo do Sebrae/PE na evolução do empreendimento. “Hoje, nós temos uma produção pequena. Queremos ganhar um edital da Facepe de escalabilidade para estender esse produto para a região Nordeste e para o todo o pais”, planeja Obionor.

A versão física do produto também avançou ao longo desses três anos e atualmente, na escala TRL (Technology Readiness Level), usada para medir o nível de maturidade de uma determinada tecnologia, encontra-se no nível TRL7, que significa pronto para ganhar escalabilidade. “Em relação à monetização, nós realizamos as primeiras vendas e, à medida que alcançarmos investidores anjos, poderemos dar escalabilidade financeira à empresa”, explica. Para dar esses passos, a startup já alcançou o mais importe: mostrar a eficiência do projeto.

Controle do oxigênio

O AeroSmart – Inteligência para o Aerador, usa os dados que constam na nuvem para ajustar os aeradores, equipamentos que adequam a água à aquicultura. Esse processo chamado de aeração consiste em inserir oxigênio gasoso na água para garantir as condições necessárias à respiração dos peixes. Com o AeroSmart, é possível inserir a dosagem correta de oxigênio, o que reduz o consumo de energia elétrica, usada para acionar os motores do equipamento de aeração.

“Em vez do produtor deixar o equipamento ligado o dia todo, sem saber se há necessidade ou não da aeração, ele liga o equipamento apenas no momento certo e na potência ideal, para manter os dados do nível de oxigenação da água conforme configurado pelo produtor. Cria-se aí, uma eficiência energética, que chega a reduzir em 60% o custo com a conta de luz”, esclarece Obionor.

Com base na mensuração do nível de oxigênio, temperatura PH e outras características da água, o equipamento possibilita ao produtor controlar o gasto com água e ração. Com isso, também é reduzido o lançamento de resíduos tóxicos provenientes da criação de peixe. São eles: nitrito, nitrato e amônia. A ração lançada na água gera esses resíduos e leva o produtor a esvaziar o tanque.

Obionor explica que se o produtor controla a ração dos peixes, reduz o lançamento de resíduos e conserva a água por mais tempo. “Se eu tenho uma quantidade menor de ração estragando na água, isso reduz o meu nível de nitrito, nitrato e amônia. Além disso, diminui o lançamento dessa água contaminada com resíduos tóxicos e de fácil diluição. Isso gera um impacto bem inferior aos modelos de criação atual que existem no Brasil”, explica.

Atuação

A Smart Rural atende clientes na Região Metropolitana do Recife, Agreste e Sertão de Pernambuco e fechou contratos com clientes nos estados do Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte. Os dados dos resultados positivos e de aperfeiçoamento estão sendo monitorados em relatório para aperfeiçoamento dos equipamentos. A tecnologia ganhou o 3º lugar no Desafio Sebrae Like a Farmer em 2023.

Obionor explica que o crescimento da Smart Rural e de outras startups do agronegócio dependem da mudança da visão, ainda muito presente, de que a universidade deve desenvolver pesquisas de graça. “Se o empresariado pernambucano investir nas pesquisas desenvolvidas na universidade, muitas soluções tecnológicas podem surgir e beneficiar as próprias empresas com a implementação da agricultura de precisão”, conclui.