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A força feminina que vem do mangue

De marisqueira a chef de cozinha, dona Maru viu na gastronomia do mangue uma oportunidade para alcançar sonhos
Por Samuel Santos
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É do mangue que Amara Maria dos Santos, conhecida como dona Maru, tira o principal ingrediente do prato que a transformou em uma chef de cozinha. Foram anos se dedicando ao ofício de marisqueira nos manguezais do município de Rio Formoso, na Zona da Mata Sul de Pernambuco. Tudo mudou depois de uma capacitação realizada pelo Instituto Negralinda, em parceria com o Sebrae/PE. Foi ali que ela descobriu que poderia ir além, mas sem abrir mão da cultura do lugar onde vive até hoje. Em uma das aulas, Maru apresentou um prato inédito, que mescla gastronomia local com gastronomia de raízes africanas. A Moqueca de Peixe com Fungi, um tipo de pirão feito com farinha de mandioca, caiu no gosto dos instrutores. Nascia então a chef dona Maru.

A pesca sempre fez parte da vida dessa empreendedora do mangue. Durante parte da vida, trabalhou em uma fábrica de camarão, no estado do Rio Grande do Norte, mas em 2004 foi para Rio Formoso, onde se associou à colônia de pescadores Z7. O trabalho no rio que dá nome a cidade sempre foi pesado. Mariscos, sururu, siris e pequenos peixes coletados pelas marisqueiras eram vendidos em feiras livres, nas peixarias e fornecidos para restaurantes dentro e fora da região. Foi assim durante muito tempo até ela e outras marisqueiras e pescadores do Rio Formoso perceberem que o mangue podia oferecer bem mais e ser um vetor de mudança na vida deles. A economia foi diversificada, por meio da criação de rotas turísticas para que os visitantes conheçam melhor os atributos naturais da localidade e desfrutem da culinária do mangue.

“Hoje eu me orgulho muito de ser mulher, marisqueira e uma chef de cozinha. Tive a oportunidade de me capacitar e agarrei essa chance. Realmente não imaginava que a minha moqueca pudesse fazer sucesso, mas agora já ganhei fama nacional e internacional”, conta dona Maru, que já apresentou a sua saborosa criação em feiras importantes como a Fenearte e para paladares de outros países.

O trabalho de dona Maru na cozinha vai além da moqueca, que pode ser feita não apenas com peixe, mas com o sururu, aratu e mariscos, direto da colônia de pescadores. Sempre inovando e criando novas receitas, ou dando um toque diferente às mais tradicionais, ela segue o seu caminho de mulher empreendedora. O carro-chefe da empreendedora do mangue não é segredo para ninguém. Sempre que é convidada, ensina a moqueca e outras receitas para quem, assim como ela, está sempre disposto a aprender.

Viúva e sem filhos, Dona Maru descobriu na gastronomia dos manguezais de Rio Formoso que pode ser uma mulher independente e conquistar o mundo, se assim o quiser, mas sem esquecer das suas origens. “Eu trabalho atualmente por encomenda, produzindo moqueca e outros pratos na cozinha da minha casa e entregando em restaurantes e para pessoas aqui da cidade mesmo. Meu sonho é abrir meu próprio restaurante, aqui em Rio Formoso, e eu sinto que estou no caminho certo para que isso aconteça”, celebra.