Um encontro rico em simbolismo e valorização da cultura afro coroou o Mês da Consciência Negra no Sebrae/PE na última terça-feira de novembro (26). Criado para incentivar e divulgar o empreendedorismo protagonizado pela população preta e parda no estado, o Empodera Afro reuniu dezenas de pessoas na sede da instituição, na Zona Oeste do Recife.
No local, o público teve acesso a informações estratégicas sobre finanças, valorização e gerenciamento de negócios, além de uma explanação importante a respeito do marketing ancestral. Completando a programação, aconteceu um bate-papo especial com a chef Carmem Virgínia, mulher negra, periférica, empreendedora e referência nacional na cozinha que utiliza alimentos e modos de preparo transmitidos de geração em geração.
A especialista destacou a questão da identidade como um diferencial para o empreendedorismo negro. “Quando você tem conhecimento de sua história, você se apropria dela, se empodera e é muito mais fácil acreditar em você, empreender e começar algo”, ressaltou a cozinheira.
O analista do Sebrae/PE Omero Galdino Júnior também ressaltou o conjunto de tradições, crenças, costumes e práticas ligadas ao povo negro na palestra em que apresentou o conceito de marketing ancestral.
É o que está na raiz de todo brasileiro. Todo mundo fala que já nascemos formados em marketing porque temos na nossa raiz duas coisas importantes: a capacidade de contar histórias de forma muito magistral e a possibilidade de termos nossa própria identidade.
Omero Galdino, analista do Sebrae/PE
A educadora popular Sarah Marques participou do Empodera Afro e apontou como exemplo a Horta Comunitária Semeando Resistência, coordenada por ela, que foi instalada num terreno onde existiu um lixão na comunidade Caranguejo Tabaiares, na Ilha do Retiro. O espaço foi organizado no período da pandemia de Covid-19 como projeto de combate à fome, educação ambiental, mobilização comunitária e empoderamento feminino.
“A gente traz o resgate do nosso pertencimento ao nosso território. A fala é que para empreender é preciso que o mundo também esteja melhor ao nosso redor”, afirmou a educadora. Atualmente, na horta, existem plantações de frutas, verduras e legumes, como banana, acerola, maracujá, abóbora, batata-doce, alface e macaxeira, entre outros.
Além das palestras e momentos de networking, o primeiro Empodera Afro promoveu também uma exposição com produtos e serviços oferecidos por empreendedores pretos e pardos. A expectativa é que o evento se torne uma referência em temáticas voltadas para o fortalecimento dos negócios liderados por negros e negras.
EMPREENDEDORISMO
Estudo realizado pelo Sebrae com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc) aponta que, no fim de 2023, 15,6 milhões de pretos e pardos eram donos de negócios no Brasil. A quantidade cresceu 22% em relação a 2013, quando este número era de 12,8 milhões de pessoas. Mesmo assim, em um país onde 56,4% da população é de negros, ‘somente’ 52,4% dos empreendedores são afrodescendentes.
O levantamento identificou que a maior parte dos empreendedores pretos e pardos são do sexo masculino (67,8%), chefes de domicílios (55%), com idade entre 30 e 49 anos (51%), residentes nas regiões Sudeste (37,7%) e Nordeste (32,7%) do país, com atuação majoritariamente nos setores de Serviços (41,4%) e Comércio (21,7%). Somente 24,2% dos donos de negócios negros possuem CNPJ.
Em Pernambuco, 64,2% dos donos de negócios são negros, o equivalente a 785 mil pessoas. A maior parte é do sexo masculino (69,4%), chefe de domicílio (52,9%), tem idade entre 30 e 39 anos (26,3%), atua no setor de Serviços (35,8%). Apenas 13,9% têm CNPJ.