Criada em uma tradicional família pernambucana de engenhos, Paula Carneiro Leão transformou um legado familiar em um negócio inovador e sustentável. À frente do “Mais Búfala” e do Engenho Cachoeira, localizado em Ribeirão, Zona da Mata Sul de Pernambuco, Paula alia a produção artesanal de alta qualidade ao turismo rural, fortalecendo a economia local. A iniciativa ressignifica a monocultura da cana-de-açúcar, promovendo capacitação de mulheres e impulsionando o desenvolvimento da região, enquanto perpetua a história empreendedora de seus pais, Riselda e Paulo Carneiro Leão, que cuidam do local há mais de 40 anos.
“Meu pai nasceu e morou em engenho, ele trabalhava como diretor comercial de uma empresa que vendia máquinas agrícolas. Em um determinado momento, resolveu atuar com cana de açúcar, então arrendou um engenho lá em Ribeirão, que é o Engenho Cachoeira, e passou mais de 20 anos produzindo cana de açúcar”, conta Paula, que hoje está à frente dos dois negócios da família.
Ela é filha caçula de três irmãs e a que sempre teve mais ligação com o engenho. Com o passar do tempo, a empreendedora percebeu que a monocultura da cana-de-açúcar não estava dando rendimento e passou a pensar soluções para inovar o negócio de seus pais.
Administrar esse negócio traz diversos significados para a minha vida. O primeiro deles é perpetuar o que meus pais começaram, pois eles estão idosos, e transformar isso numa fonte de renda para que eles possam viver com uma boa qualidade de vida através desse negócio é uma missão cumprida. Somada à oportunidade de perpetuar a história deles naquela região.
Paula Carneiro Leão, proprietária da Mais Búfala e Engenho Cachoeira
Paula notou que o turismo rural estava começando a crescer no Brasil e enxergou a possibilidade de implantar essa prática no ambiente e convenceu seus pais a abrir o engenho para visitação. Ao mesmo tempo que abriram para o turismo, o pai da proprietária colocou algumas búfalas no local. As búfalas começaram a dar leite, e Riselda, mãe de Paula, decidiu aproveitar essa matéria-prima de alguma forma. A partir disso, começou a testar receitas, fez cursos e desenvolver produtos, como queijos. A empreendedora sempre relembra a importante participação de seus pais na construção do negócio. “Os dois são muito empreendedores, e eu estou falando de duas pessoas que têm 84 e 82 anos. Particularmente, acho isso lindo e inspirador, porque enquanto muita gente está esperando para ir embora, eles estão pensando em novos projetos e tudo isso transforma e faz com que eles acordem todo dia com vontade de viver.”
Os produtos são feitos por mulheres retiradas do trabalho árduo que é o corte de cana e que foram capacitadas e transformadas em mestres queijeiras. Toda a produção é totalmente artesanal, resultando em queijos, como coalho e mozzarella, burrata, cremes e no carro-chefe da casa – o doce de leite, que é mexido à mão durante horas e impressiona pela sua cremosidade, brilho, textura e, claro, pelo sabor. Atualmente, o “Mais Búfala” é o único laticínio artesanal de búfalo em Pernambuco que possui registro da Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária do Estado de Pernambuco (Adagro).
Durante a pandemia, eles perceberam que a venda dos produtos era amadora, pois as vendas eram direcionadas apenas para os conhecidos. Então, decidiram comercializar o produto por delivery, resultando numa explosão de vendas que os motivou a criar a marca “Mais Búfala”. Com a volta dos restaurantes após a pandemia, a venda por delivery diminuiu e eles passaram a crescer no segmento do food service. “Entregamos produtos para os melhores restaurantes de Recife, que valorizam uma matéria-prima mais cara, um produto melhor”, destaca a proprietária.
TURISMO RURAL
O Engenho Cachoeira possui um enorme potencial na exploração do seu equipamento para o turismo rural. Dentro do espaço existem diversos recursos que proporcionam experiências inesquecíveis, como o rio que atravessa o Engenho, a fonte de água nascente que é utilizada na queijaria, a criação de búfalos e cavalos, passeio de caiaque, além do diferencial que é poder saborear a comida afetiva de gerações de casa de engenho.
As pessoas passam por todos esses ambientes, conhecem a criação de búfalos numa charrete puxada por um trator e, após tudo isso, é na hora da alimentação que mora o momento mais marcante desse passeio. No almoço, é servido o filé de búfalo, que é mais saudável e tão saboroso quanto a carne bovina. Os visitantes podem saborear todos os doces tradicionais, como os de banana, goiaba, mamão, batata doce e o doce de leite do “Mais Búfala”. Também provam os queijos produzidos e o famoso bolo Souza Leão”, Patrimônio Cultural e Imaterial de Pernambuco, que também é receita tradicional da família de Paula Carneiro Leão.
ECONOMIA LOCAL
O objetivo da proprietária é conseguir gerar emprego para as pessoas que, tradicionalmente, viviam da monocultura da cana-de-açúcar. Paula está participando do “Programa Líder” do Sebrae Pernambuco, que visa qualificar, mobilizar e integrar lideranças, buscando o desenvolvimento da região.
“O nosso desafio é realmente desenvolver essa região com outras possibilidades, e o turismo vem se mostrando como uma das grandes propostas e promessas para o futuro. Então, acreditamos e esperamos que, nesse momento, podemos, junto ao Sebrae, desenvolver pesquisas, ideias interessantes, fontes de dados, estatísticas e números, que nos orientem para a gente ter um olhar mais profissional e levar uma mudança de vida para as pessoas que estão naquela região”, ressalta a empreendedora.