Sessenta reeducandas da Colônia Penal Feminina do Recife (CPFR), na Iputinga, Zona Oeste da capital, estão recebendo, desde a última sexta-feira (04), capacitações técnicas de gastronomia, panificação e confeitaria. Além de proporcionar conhecimentos técnicos e ampliar o repertório culinário, que podem ser úteis na busca por reinserção profissional após o período de detenção, a iniciativa busca qualificar a produção já existente na unidade prisional. Hoje, as detentas confeccionam pão para consumo interno.
A mobilização, que se estende até esta terça-feira (8), também pretende diversificar as opções alimentícias no local, já que a oferta, atualmente, é limitada ao tradicional pãozinho francês. Divididas em três turmas, elas estão aprendendo a fazer a massa base de pão doce e outra para a produção de bolachas, incluindo a do tipo sete capas. Os grupos ainda vão receber aulas sobre cozimento, manipulação do forno e de alimentos e uso de utensílios e novos ingredientes, entre outros.
Neste mês, a formação deverá ser repetida na Colônia Penal Feminina de Abreu e Lima (CPFAL), também na Região Metropolitana da capital (RMR). Outras 60 detentas deverão ser capacitadas na penitenciária, totalizando 120 mulheres em situação de privação de liberdade beneficiadas pela ação.
A iniciativa faz parte do Pernambuco que encanta: Saberes e Sabores, projeto encabeçado pelo Sebrae/PE e a Agência Estadual de Desenvolvimento Econômico (Adepe). A parceria visa valorizar a tradição e a originalidade dos bolos, doces e guloseimas pernambucanas, resgatando a identidade da gastronomia local e promovendo inclusão produtiva para públicos em situação de vulnerabilidade social. Outra meta é ajudar a mitigar dois grandes problemas do segmento de confeitaria, que são a baixa competividade pela falta de conhecimento técnico e a baixa maturidade de gestão.
A confeitaria e a panificação são portas de entrada muito importantes para quem deseja iniciar um empreendimento próprio ou voltar para o mercado de trabalho, porque o setor tem demanda permanente. Ciente do impacto social de uma iniciativa como essa, o Sebrae decidiu contribuir com a possibilidade de gerar oportunidade de negócios, viabilizar potencial geração de renda e proporcionar uma maneira de as apenadas serem reintegradas ao mercado de trabalho após a saída da prisão, auxiliando-as a reescrever as suas vidas.
Filipe Sampaio, gestor de Alimentos e Bebidas do Sebrae/PE para a RMR.
Ele ressalta que o engajamento das reeducandas nas capacitações e o trabalho desenvolvido na unidade também podem auxiliar na redução do tempo de pena e na ressocialização. Antes da etapa de oficinas, os chefs consultores ligados ao projeto estiveram na Colônia Penal Feminina do Recife para implantar um modelo de produção sustentável em panificação e confeitaria. As intervenções incluíram a reorganização do layout dos equipamentos na cozinha da unidade, a adoção de processos operacionais padronizados, treinamentos para operação de máquinas e a elaboração de fichas técnicas das receitas.
A expectativa é que, até setembro de 2026, as medidas realizadas nas duas Colônias Penais Femininas da RMR resultem em um aumento de 10% na produtividade, de forma a permitir que atendam até a futuras demandas da Secretaria Estadual de Administração Penitenciária e Ressocialização (Seap). Atualmente, juntas, as unidades produzem 1,1 mil pães e mil refeições por dia.
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Além das reeducandas do sistema prisional, o projeto Pernambuco que Encanta: Sabores e Saberes tem como público alvo mulheres quilombolas e outras em situação de vulnerabilidade social residentes na RMR. No total, 180 delas deverão ser diretamente atendidas pelas ações.
As participantes terão acesso a atividades conjuntas e a conteúdos específicos conforme o perfil de cada grupo, como consultorias de marketing; curso de visual merchandising; desenvolvimento de redes sociais e oficina de fotografia para ambientes virtuais. Ainda serão oferecidas iniciativas voltadas para inovação, segurança alimentar, sustentabilidade, qualificação da gestão e liderança na área de gastronomia. O uso de insumos provenientes da agricultura familiar será incentivado em todas as fases como forma de valorizar a produção local e fortalecer os pequenos negócios locais.