“O Sertão é dentro da gente”. A frase deu o tom da maratona de atividades do 1º Seminário de Economia Criativa do Sertão, promovido pelo Sebrae/PE. Realizado no último sábado (30), em Serra Talhada, o evento reuniu centenas de criativos e criativas de municípios dos sertões Central, do Pajeú, Itaparica e Moxotó. Pela primeira vez, a riqueza artística e cultural da região foi amplamente debatida como parte essencial deste setor, ressaltando seu papel como geradora de renda e transformadora social.
Além de centenas de participantes, a cerimônia de abertura contou com autoridades e representantes de prefeituras da região e de instituições parceiras, reafirmando o compromisso de promover ações efetivas que valorizem a cultura sertaneja.
Esse foi um ponto de encontro, mas também o ponto de partida para a implementação e ampliação de ações que valorizem o fazer cultural no sertão que existe dentro de cada um de nós. Tivemos um espaço rico de aprendizado e conexão para pequenos negócios criativos, lideranças comunitárias, cooperativas e representantes do poder público.
Patrícia Carla, analista do Sebrae/PE
Cláudia Leitão, pesquisadora e ex-secretária de cultura do Ceará, destacou o papel estratégico da economia criativa no desenvolvimento sustentável do Brasil. Cotada para assumir a Secretaria Nacional de Economia Criativa, que deve ser recriada pelo governo federal, Cláudia enfatizou a valorização dos saberes e fazeres populares:
“Quando a Secretaria da Economia Criativa e o Ministério da Cultura foram extintos, o Sebrae manteve a bandeira da economia criativa no Brasil. Esse movimento aqui no sertão é estratégico para o desenvolvimento sustentável. São brasileiros e brasileiras que acordam cedo todos os dias para fazer essa economia acontecer. Está na hora de ela aparecer no nosso PIB e ser valorizada”, destacou.
Um dos pontos altos do seminário foi a roda de conversa com os quatro patrimônios vivos da região: Dedé Monteiro, de Tabira; Assisão, de Serra Talhada; Chico Santeiro, de Triunfo; e o Grupo de Coco Negras e Negros do Leitão da Carapuça, de Afogados da Ingazeira. Eles compartilharam suas histórias e contribuições culturais.
“Essa certeza de que o sertão está dentro da gente é o que nos motiva a seguir em frente. O termo ‘economia criativa’ diz muito, e esse evento nos enriquece, nos dá a consciência de que a cultura também é formadora de recursos”, declarou Dedé Monteiro, ícone da poesia pernambucana no Pajeú.
Ao longo do dia, palestras, painéis e oficinas simultâneas abordaram temas como gestão cultural, memória social, inovação e fortalecimento do ecossistema da economia criativa no sertão, além de iniciativas inspiradoras e políticas públicas para estruturação do segmento. Contudo, um desafio foi amplamente debatido: a ausência de dados que mensuram o impacto econômico do setor.“Ainda não conseguimos colocar a cultura como geradora de desenvolvimento econômico. É preciso deslocá-la para um lugar de destaque, pensar no trabalho, emprego e renda, e colocá-la na pauta econômica”, reforçou Cláudia Leitão.
APOIO E MERCADO PARA OS CRIATIVOS
O Sebrae/PE tem atuado com capacitações e apoio à formalização de negócios criativos. O trabalho envolve orientações periódicas sobre gestão, estratégias de marketing e de acesso ao mercado.
Se queremos melhorar esse ambiente, é preciso olhar para o setor e entender suas necessidades. A economia criativa transforma. Além da criação, é preciso gestão e esforços conjuntos para abrir novos mercados.
Verônica Ribeiro, gestora estadual de Turismo e Economia Criativa do Sebrae/PE
O seminário também foi uma oportunidade para produtores locais exibirem seus produtos em uma feira na entrada do local do evento. A empreendedora Cláudia Justino, do município de Brejinho, fabrica temperos naturais. “Antes eu fazia apenas para consumo próprio, depois comecei a vender para vizinhos e hoje já participo de feiras e exponho meus produtos na internet”, contou.
Participaram das discussões do 1º Seminário de Economia Criativa do Sertão nomes da Agência de Desenvolvimento de Pernambuco (Adepe), Fundarpe, Instituto de Assessoria para o Desenvolvimento Humano (IADH), Comitê de Cultura de Pernambuco e representantes do HUB de Inovação do Pajeú, rede criada com objetivo de fortalecer o ecossistema de inovação no território.